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Café Analítico

A onda

Nas últimas semanas estamos vivenciando uma verdadeira guerra virtual. Basta abrir o Facebook para entender o que estou dizendo. Num processo eleitoral para a presidência da República, num momento em que o país passa por uma grande crise, a rede social transformou-se num campo de batalha. Qualquer opinião postada, logo é bombardeada pela ira dos opostos. E a discussão não fica apenas no campo saudável das ideias, mas transformou-se em algo irracional e agressivo e que ultrapassa as barreiras do mundo virtual. Não importa o que o outro argumente, importa o ataque. Uma verdadeira euforia insana de violência, como a retratada no filme ‘A Onda’, de Denis Gansel (2008).

Isso já aconteceu antes na história, como no caso do nazismo, e é difícil entender como pessoas boas, pessoas com pensamento dentro da normalidade, de repente, abraçam uma briga irracional, sem questionar. O grupo se forma e o indivíduo é capaz de dar a própria vida a ele, irracionalmente.

Na psicologia, Freud retratou esse comportamento, explicando a dissolução da identidade do sujeito, pela identificação com um grupo. Neste momento, a massa torna-se uma unidade viva, a qual idealiza a figura de um líder paternal e poderoso, para suprir os próprios desejos do Ego. Então, a liberação instintiva da agressividade acontece pela regressão do Ego. A pessoa dilui-se em meio ao grupo e perde a própria identidade. Sua maneira de ver as coisas muda e ela perde a lucidez em relação à realidade. E aí entramos num campo perigoso, pois ela se isenta de toda a responsabilidade, transferindo suas ações pessoais ao grupo, à ‘causa maior’. Neste momento, os indivíduos liberam todos os seus impulsos agressivos e irracionais em prol do ‘bem maior’.

Esse fenômeno mostra como somos frágeis e podemos transitar de um raciocínio lógico para um impulso irracional e violento. Penso que é isto o que está acontecendo nas redes sociais, neste momento. Precisamos acordar desta hipnose coletiva, frear os impulsos mais primitivos e tentar trazer o debate para a razão. Não é uma guerra, é um processo eleitoral democrático. Opiniões divergentes não devem ser tratadas como uma afronta. Vamos tentar sair desta onda e voltar a raciocinar por nós mesmos. O resto é ilusão e só traz prejuízos a todos nós.

“A violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota.”

Jean-Paul Sartre

Café Analítico

Por: Camyle Hart

Jornalista e Psicóloga (Crp 08/22594)
Atendimento terapêutico (45) 99932-0666

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