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Café Analítico

Auto sabotagem

Você passa meses na academia, foca na dieta para emagrecer e anima-se quando os resultados começam a aparecer. Isso lhe dá ânimo para continuar e você já se vê atingindo os resultados que tanto sonhou. Mas, quando está próximo de atingir a meta, é convidado para uma festa num final de semana qualquer, vê todo mundo comendo e bebendo e pensa: “Vou me dar o direito de matar todas as minhas vontades só hoje, não fará diferença. Amanhã recomeço a dieta.” E então, este amanhã não chega mais.

Outra situação comum é quando você passa meses estudando para uma prova importante, de um concurso, por exemplo. Está preparado, estudou tudo o que estava no edital, mas, na hora da prova, quando está prestes a atingir seu objetivo, dá um “branco” e você esquece tudo o que aprendeu.

Estes dois exemplos acima mostram situações de auto sabotagem. Mas, por que tendemos a nos boicotar? Por que quando estamos próximos da realização dos nossos desejos, acabamos indo no sentido contrário?

Nestes casos, que são mais comuns do que pensamos, inconscientemente temos a convicção de que não temos o direito de ter nossos desejos realizados. Pensamentos vêm à tona: “Não mereço isso”; “É muito para mim”; “Não sou digno de tanta felicidade”; “Não fiz por merecer”.

E então fazemos um esforço contrário para provar que nosso inconsciente tem razão. Desorganização, falta de tempo, irresponsabilidade, descontrole da própria vida e medo de arriscar acabam sendo as desculpas para não chegar àquilo que nos deixaria mais felizes.

Freud, no texto Os arruinados pelo êxito, fala que um sentimento de culpa e angústia acaba por tornar intolerável a mera possibilidade de sucesso. Como se tivéssemos que nos punir por estarmos atingindo a felicidade. Então, para sair do estado de angústia, o único caminho é o fracasso. Não damos conta da angústia sentida ao estar próximos dos nossos objetivos. Tudo isto porque fomos constituídos na falta, onde não há completude. Inconscientemente, o lugar onde nada nos falta é um lugar inatingível, impossível, desconhecido. Já a falta nos é familiar, portanto, mais aconchegante, está dentro da nossa zona de conforto. Sem a falta, não teríamos a necessidade de desejar, então nos boicotamos.

“Neste mundo, há apenas duas tragédias: uma a de não satisfazermos os nossos desejos, e a outra a de os satisfazermos.” Oscar Wilde

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Por: Camyle Hart

Jornalista e Psicóloga (Crp 08/22594)
Atendimento terapêutico (45) 99932-0666

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