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Café Analítico

Morte

Estamos inseridos numa cultura que nega a morte e que alimenta a ideia da eterna juventude. Tudo ao nosso redor, desde alimentos até produtos de beleza, vende a ilusão da juventude para sempre. Temos o belo como sendo o jovem e o envelhecimento como um fracasso. E neste contexto ilusório de eterna juventude, a morte é um tabu, uma grande inimiga que vagueia nas sombras do inconsciente.

Por não falarmos dela e pelo fato de não a admitirmos é que quando ela chega, nós nos desesperamos, negamos, sentimos medo e raiva. Tratamos a morte como uma grande inimiga a ser combatida… sem nos darmos conta de que é um duelo vencido.

Precisamos falar sobre a morte. Tirá-la das sombras e trazê-la para o cotidiano. Conhecê-la. Afinal, a morte é tão real quanto o nascimento.

Há um lindo conto budista que fala sobre a negação da morte, mais ou menos assim:

Há muito tempo, no Tibete, uma mulher viu seu filho, ainda bebê, adoecer e morrer em seus braços, sem que ela nada pudesse fazer. Desesperada, saiu pelas ruas implorando que alguém a ajudasse a encontrar um remédio que pudesse curar a morte do filho. Como ninguém podia ajudá-la, a mulher procurou um mestre budista, colocou o corpo da criança a seus pés e falou sobre a profunda tristeza que a estava abatendo. O mestre, então, respondeu que havia, sim, uma solução para a sua dor. Ela deveria voltar à cidade e trazer para ele uma semente de mostarda nascida em uma casa onde nunca tivesse ocorrido uma perda. A mulher partiu, exultante, em busca da semente. Foi de casa em casa. Sempre ouvindo as mesmas respostas. “Muita gente já morreu nessa casa”; “Desculpe, já houve morte em nossa família”; “Aqui nós já perdemos um bebê também.” Depois de vencer a cidade inteira sem conseguir a semente de mostarda pedida pelo mestre, a mulher compreendeu a lição.

Não vai adiantar não pensar ou falar sobre a morte na ilusão de que, assim, ela não fará parte das nossas vidas, porque ela vai. Não podemos evitá-la. Todos nós nascemos, crescemos e vamos morrer. Mas esta lógica tão simples é muitas vezes deixada de lado na nossa sociedade. A morte não é nossa inimiga, mas sim, faz parte da existência. Ela nos dá o aprendizado da importância e finitude da vida e de que devemos aproveitar o tempo que nos é dado. Como disse a psiquiatra suíça, Elisabeth Kubler-Ross: “Não espere o momento em que desejará dar uma ultima olhada no oceano, no céu, nas estrelas ou nas pessoas queridas. Vá agora.”

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Por: Camyle Hart

Jornalista e Psicóloga (Crp 08/22594)
Atendimento terapêutico (45) 99932-0666

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