Especial

CHAMINÉS CERÂMICA SIMONATTO

Duas jovens senhoras que já completaram 50 anos

A conservação de ambas as torres é imprescindível pela sua relevância histórica e por ser um patrimônio material e imaterial da história de Medianeira

Preservar o patrimônio histórico e cultural não é apenas acumular conhecimento sobre o passado. É planejar o futuro, afinal o que se preserva hoje é aquilo o que nossos filhos e netos conhecerão amanhã. As festas, as tradições, os monumentos e as construções são heranças que fazem parte da nossa identidade.

Em Medianeira, temos diversas construções e espaços que se tornaram símbolos históricos, culturais e artísticos da cidade. Um deles, e diga-se de passagem, de imponência única,  são as chaminés da Cerâmica Simonatto. Trata-se de construções em tijolo maciço de aproximadamente 16 metros de altura por um diâmetro de três metros na base, constituído no seu subsolo de pequenos túneis de ventilação. Em excelente estado de conservação, completaram 50 anos em 25 de outubro de 2022.

Roberto Antonio Marin (que dá nome à Casa da Memória de Medianeira), em seu livro “De sol e Lua – Por onde anda…” (2003), faz uma descrição da importância histórica da Cerâmica Simonatto para Medianeira: “Nelson Simonatto nasceu em 1934 e faleceu em 22 de maio de 2011 de AVC, depois de sofrer do mal de Alzheimer, gaúcho de Nova Prata, RS, que por quase cinco décadas dirigiu a Cerâmica Simonatto, sendo sua empresa a terceira mais antiga de Medianeira em atividade. Casado com Ana Cilésia Bortolini Simonatto, com quem teve três filhos, cinco netos, aprendeu falar português por força de um decreto de Getúlio Vargas que proibia o ensino em língua estrangeira, no caso o italiano, e que, no ano de 1965, chegou para conhecer o “El Dorado” do Oeste do Paraná. Voltou para Santa Catarina com “10 latas de barro para teste” e 30 dias depois já estava montando a Cerâmica Simonatto, em sociedade com Celso, seu irmão, Virgilio Moresco e João Mayer. Com lenha abundante e barata, para não dizer de graça, argila de boa qualidade, em 1965, deram início ao trabalho de produção de telhas. Na época, a procura por telhas era muito grande e o negócio prosperou a ponto de Nelson Simonatto conseguir comprar cinco carros importados: quatro Mercedes e um Ford.

A primeira torre da cerâmica foi feita no ano de 1972. Desde o começo vendiam telhas, para toda a região e também para o Paraguai, fizeram por uma época tijolos, do modelo de 21 furos para paredes a vista, mas a especialidade sempre foram as telhas, começaram com a telha francesa, depois a telha colonial, que é a telha capa e canal, que são duas peças separadas, e por último a telha marselhesa, pode-se dizer que mais da metade da cidade de Medianeira foi coberta com telhas Simonatto. O slogan da cerâmica é: ‘juntos cobrimos nossos sonhos’. Na FIEP, em Curitiba, há um busto do Sr. Nelson, que recebeu uma honraria, a qual foi entregue em uma festividade na cidade de Marechal Cândido Rondon. Sr. Nelson também ganhou uma comenda em seu nome, chamada ‘Comenda Nelson Simonatto’, proferida pela Acime”.

Esse breve relato traz consigo a importância de se conservar cada vez mais as memórias da cidade, através da preservação de seus poucos e importantes monumentos. As torres/chaminés, gêmeas que são, precisam ser conservadas e transformadas em espaço público de visitação, pois fazem parte do passado, do período da colonização e urbanização da cidade. Cada casa, cada empresa, cada barracão da zona rural, foi coberto por uma telha com a incrustação do nome Simonatto.  Como então não valorizar estes obeliscos como nosso grande patrimônio material e imaterial da história de Medianeira?

Na área onde estão localizadas as chaminés, a intenção é construir um novo condomínio. A Espaço III – Imobiliária e Incorporadora requereu uma consulta prévia, que está na Comissão de Parcelamento de Solos, no âmbito da Secretaria de Administração e Planejamento, para adequar o projeto à nova legislação para condomínios. Segundo José Roberto Mazzarella, diretor da Espaço III, já existe um projeto para que as duas torres/chaminés sejam preservadas. Uma delas ficaria na parte externa do condomínio, por onde seria desviada a Avenida Veranópolis, e nesse local a sugestão é a construção de um Memorial em homenagem aos pioneiros/colonizadores, para visitação e exposição da história da Cerâmica e dos primeiros anos de Medianeira. Lá deverá haver um local onde constarão os nomes de todas as famílias que deram seus anos de juventude, amor e sonhos para construir nossa querida cidade. A outra chaminé, que ficaria dentro do condomínio, também seria preservada. “De início, teríamos que fazer o fortalecimento das bases, para que tenham longa durabilidade, além de todo um trabalho de preservação, e dependemos da aprovação da Prefeitura. Importante frisar que esse tipo de torre é preservada em diversos países e cidades, como Curitiba, por exemplo. As cerâmicas desaparecem, mas as torres são consideradas marcos na questão econômica, cultural e como identificação com determinado segmento. O objetivo da Espaço III é fazer um projeto a duas mãos com a Administração Municipal, preservando a história, conciliando o econômico e o histórico-cultural”, finaliza.

Para preservar sempre deve haver um jeito. E aqui fica uma reflexão: quanto valem nossas memórias?

 

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