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Nosso Povo

COLUNA

Vida de educadora

Para valorizar a Educação, tema do caderno especial desta edição, reeditamos um depoimento* da professora aposentada, Maria Ivone Silvina, que sempre teve orgulho de trabalhar na área.

“Durante estes mais de 55 anos neste município, tivemos a oportunidade de trabalhar, estudar e de crescer com o povo de Medianeira, terra esta conquistada por tantos migrantes, principalmente os que vieram do Sul do Brasil. Todos tinham o mesmo objetivo que era de conquista e de trabalho. Apesar das dificuldades, todos tivemos a oportunidade de estudar e ou de continuar seus estudos, pelo menos até o 4º ano, nas escolas rurais, classes multisseriadas e com um único professor.

            Quando ingressei na escola daqui, o Educandário Nossa Senhora Medianeira, chamado Colégio das Freiras, já no 5º ano de admissão ao ginásio, onde fiquei por muito tempo, pois, a hospitalidade da comunidade religiosa falava mais alto. Ali pude continuar estudando, trabalhando e prestando serviço na escola como ajudante de sala de aula, para poder pagar o internato.

            O trabalho de sala de aula acontecia em virtude da professora, que era a freira diretora, estar bastante ocupada nas atividades administrativas. Era uma classe de 1º ano, e lá ficava praticamente sozinha na sala, com um número até bastante significativo de alunos, onde tinha que ensinar a ler e escrever e não era nada fácil lidar com alfabetização. Os alunos tinham que aprender decorando as letras, as sílabas e assim sucessivamente.

            No começo, na formação da cidade, os locais de ensino eram muito pobres, até apresentavam-se sem janelas, portas, carteiras, apenas um simples quadro-negro para quatro séries. Muitas vezes, eram locais cedidos pelos pais da comunidade, espécie de galpão com bancos feitos de tábuas e telhado de tabuinhas, espécie de telha, longe da presença de material adequado para poder ensinar e por um professor até de pouca formação que se prontificava para prestar o serviço, que era pago pela Prefeitura e ou até, em muitos locais, pela comunidade. No final do ano era feito o tal exame final para o quadro dos aprovados e ou reprovados. Os resultados eram levados para Foz do Iguaçu.

            Já com formatura ginasial, pude continuar no colégio e cursar o Magistério que deu-me a oportunidade de trabalhar como professora de Educação Infantil, Ensino Fundamental, na trajetória da profissão, como professora de alfabetização que sempre fui apaixonada pelos resultados conquistados.

            Além destas oportunidades, pude trabalhar em vários lugares e em diferentes atividades, pois era professora de carreira, corria atrás do tempo. Fui bibliotecária, assistente de aluno, docente, coordenadora pedagógica, orientadora educacional, diretora, auxiliar e até professora de zona rural. Digo isso com muito orgulho, porque lá aprendi muito com os alunos e a comunidade, onde fazia de tudo, até a merenda escolar. Esta foi a minha melhor escola de formação e de aprendizado.

            Logo em seguida, fui convidada pelo prefeito Municipal Luiz Bonatto, Ana Jadi Garcia e Noeli Prestes Padilha, ambas da pasta de Educação, para trabalhar na Escola Plinio Tourinho, criado em 1973, e onde pude fazer concurso público.

            Com isto, pude fazer vestibular e ingressar na Faculdade de Pedagogia, em Cascavel, a Fecivel. Foi ótimo, apesar das dificuldades que tinha que enfrentar com hospedagem, transporte e pagamento do curso, porque o salário era pouco e atrasava bastante.

            Durante o curso, trabalhei também na Escola Olavo Bilac como coordenadora pedagógica cedida pelo município. Posteriormente, fui trabalhar na Secretaria de Educação, onde tive a oportunidade de estar ao lado dos professores da zona rural de Missal, Jardinópolis, Flor da Serra e da sede como coordenadora pedagógica. Lá aprendi muito com eles, com os alunos e com as comunidades que, apesar da pouca formação, eram bastante sábios.

            Neste tempo de trabalho com os professores foi um aprendizado sem tamanho, pude estimulá-los a estudar, conquistar a formação necessária e desejada. Isto foi bom, lindo e gratificante. Sempre preguei: Não tenho medo de ser professora e nem muito menos vergonha.

            Durante os governos de Luiz Bonatto, já no final do seu mandato, Ivo Antônio Darolt e Elias Carrer até 1992, fui secretária municipal de Educação. Já com concurso público estadual, trabalhei paralelo à Prefeitura Municipal, na Escola Estadual Costa e Silva e no Colégio Mondrone, como coordenadora pedagógica, professora de alfabetização e no curso magistério.

Em 07 de abril de 1997 recebi o recorte do jornal “Diário Oficial”, que oficializava a aposentadoria por tempo de serviço. Não foi fácil deixar a sala de aula e o trabalho que vinha fazendo junto ao magistério e aos alunos.

            Com o objetivo de dar continuidade ao que vinha fazendo, que era lutar por educação para todos, convencer a comunidade de que a Educação é o caminho para mudanças, continuei o trabalho na Escola Monteiro Lobato, até 20 de dezembro de 2004.

            Finalizando, enfatizo com orgulho o trabalho na Educação em todos estes anos, desde o seu pioneirismo até a aposentadoria nas linhas de ação, na formação do professor, na preocupação com a qualidade de ensino, com a competência pedagógica, nas atividades e nas atitudes de respeito às filosofias e expressões do povo de Medianeira, onde sempre procurei fazer um trabalho sério, com responsabilidade e comprometimento, porque estava em jogo o professor e a aprendizagem dos alunos”.

           

            *Depoimento publicado na íntegra na edição de 02 de julho de 2020, em alusão aos 60 anos de emancipação político administrativa de Medianeira.

Nosso Povo

Por: Ana Cláudia Valério

Mestre em Educação, Especialista em Docência no Ensino Superior e graduada em Comunicação Social – Jornalismo. Tem experiência em Jornalismo nas áreas de Televisão, Assessoria de Comunicação e Jornal Impresso, tendo trabalhado em veículos de comunicação, instituições de ensino superior e campanhas políticas. Hoje é editora do Jornal Mensageiro e coordenadora de Gestão e Memória da Casa da Memória Roberto Antonio Marin, de Medianeira.

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