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Café Analítico

Fala que eu não escuto

Você encontra um amigo e fica feliz em poder compartilhar suas novidades, emoções ou até angústias. Então comenta: “Sabe, não dormi nada esta noite. Fiquei pensando nos problemas que preciso resolver…” Então, sem que você termine de contar, ele lhe interrompe: “Pois é, isso acontece comigo, sabe que uma vez…” E segue contando o que lhe ocorreu sem perceber que nem mesmo terminou de ouvir o que você tinha a dizer. Outro exemplo é quando você chega alegre para contar um fato novo na sua vida. Mal começa a falar e a pessoa corta o seu relato para dizer algo que tenha ocorrido a ela. Quem nunca passou por isso?
Estamos cada um no seu mundo sem nos preocuparmos com o outro. Temos tanta necessidade de falar de nós mesmos que esquecemos de ouvir. É impulsivo. Alguém começa a falar e não escutamos. Conforme ela vai falando, vamos pensando nas nossas experiências, no que nos aconteceu e acabamos por não ouvi-la, pois estamos falando ao mesmo tempo, seja verbalmente ou em pensamentos.
Assim, a conversa, que era para ser prazerosa e rica em troca de experiências, vira um monólogo onde cada um dos envolvidos está falando consigo mesmo e isso não satisfaz. É preciso ver o outro, ouvir o que tem a dizer, ter empatia. Fato é que falamos muito mais do que temos paciência para ouvir e nem nos damos conta de que ficar falando de nós mesmos pode ser muito entediante para a outra pessoa.
É uma necessidade tão grande de ser ouvido que não há espaço para o outro se expressar, pois tudo gira em torno das suas próprias necessidades. E isso é comum. Passamos por situações assim todos os dias.
Essa necessidade de atenção, de se fazer ouvido, pode vir de inseguranças inconscientes e o alívio vem quando se fala sem parar, numa ânsia em mostrar o próprio valor ou provar algo a alguém ou a si mesmo. O falar tira o foco da angústia interior, distrai. Enquanto fala, a pessoa não precisa encarar ela mesma e seus monstros interiores.
Conviver é uma troca. Devemos falar, mas precisamos também ouvir. Quem só abre espaço para a própria fala acaba afastando as pessoas e nem sequer entende o porquê.
“Os homens distinguem-se entre si também neste caso: alguns primeiro pensam, depois falam e, em seguida, agem; outros, ao contrário, primeiro falam, depois agem e, por fim, pensam.” Leon Tolstói

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Por: Camyle Hart

Jornalista e Psicóloga (Crp 08/22594)
Atendimento terapêutico (45) 99932-0666

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