EVOLUÇÃO
Arquitetura como promotora de desenvolvimento urbano
A Avenida Brasília sempre foi o grande eixo de Medianeira. Ela não é apenas uma via de circulação, mas um espaço que simboliza a vitalidade econômica, a força do comércio e a história do nosso município. Para quem chega à cidade, é o primeiro contato visual, e para quem vive aqui, é parte da rotina e das memórias. As transformações que ela vem sofrendo ao longo das décadas, refletem diretamente no orgulho de ser medianeirense
Texto por Ana Cláudia Valério . Fotos por Acervo Revista Mosaicos/Arquivo Casa da Memória/Arquivo Jornal Mensageiro/Divulgação/ Ana Cláudia Valério . 26 de setembro de 2025 . 14:33
A Avenida Brasília, inicialmente denominada Avenida Bento Munhoz da Rocha, esteve desde o início do projeto de colonização de Medianeira. Foi no começo da Avenida Brasília, na intersecção com a “Rodovia Federal”, hoje BR-277, que surgiram as primeiras casas. Ali, onde hoje está o viaduto, nasceu a cidade. O centro da vila se localizava nessa região e conforme iam chegando novos moradores, a Avenida Brasília ganhava vida e cara nova.
Nas duas primeiras décadas de Medianeira, a Avenida Brasília foi o cerne da vida da cidade, porém ela não era asfaltada. Pioneiros e moradores do município relatam que para ir à missa em dia de chuva, era preciso ter dois calçados: um que iriam caminhar e encher do “barro vermelho e grudento” e o outro que usariam para entrar na Igreja que se localizava, na avenida, onde hoje está instalado o Banco do Brasil. A Avenida só foi receber asfalto durante a década de 1970, durante a gestão de Luiz Bonatto.
Até a década de 1970, ela existia praticamente até a Praça Ângelo Darolt e dali para cima ainda era área de vegetação.



PROJETO OUSADO – Em 1987, um dos pioneiros de Medianeira, Antônio João Cassânego, idealizou um projeto para dar continuidade à Avenida Brasília, passando pela Praça Ângelo Darolt, sem alterar nada de sua estrutura urbanística. Seu Antônio elaborou uma maquete expondo sua ideia de ruas e passarelas elevadas sobre a praça. O projeto não saiu do papel, mas contribuiu para que as discussões sobre reforma e reestruturação da praça se desenvolvessem.

Até a década de 1990, a Avenida Brasília permaneceu interrompida pela Praça Ângelo Darolt. Se intensificavam as discussões envolvendo uma reforma e a necessidade de mudança. Em 1998, durante a gestão do prefeito Luiz Yoshio Suzuke aconteceu o primeiro plebiscito sobre a Praça Ângelo Darolt, com a intenção de modificar sua estrutura e revitalizá-la. A opção de a praça ser “cortada” pela Avenida Brasília saiu vitoriosa, pois já era anseio antigo de moradores, em especial dos comerciantes. No ano seguinte, foi apresentado o primeiro projeto e iniciadas as obras de reestruturação. Em 2000, a praça recebeu sinalização e foi aberta para que os veículos pudessem transitar nas novas ruas abertas. Após a conclusão das obras, a Praça foi dividida em duas partes: uma para shows eventos e a outra para recreação infantil e esportiva.

PAQUERA NA AVENIDA – Lazer, confraternização e integração da comunidade local. Foi com esse intuito que surgiu o evento “Paquera na Avenida”. O primeiro foi realizado no dia 21 de abril de 1991. Uma parte da Avenida Brasília era fechada para que os jovens pudessem passear, namorar e se divertir livremente, sem se preocupar com a movimentação de carros.
O evento acontecia todos os domingos com novas atrações como: gincanas, shows, desfiles, festivais entre outras. “Esperávamos muito o domingo à noite. Era sagrado, primeiro íamos à missa e depois na Paquera na Avenida”, conta a pedagoga Edimara Marciano.
O prefeito de Medianeira, Antonio França, comenta que na época a Avenida era o principal ponto de encontros da cidade. “Durante o dia comércio movimentado e à noite bares, restaurantes e o passeio a pé, de motocicleta ou carro. “Quem não se lembra do Paquera na Avenida, que proporcionou muitos namoros e vários casamentos”.

CALÇADÃO – Eventos como o “Paquera na Avenida” incentivaram as discussões sobre a construção do calçadão da Av. Brasília. E após debates, obras e paralisações, finalmente, em 13 de setembro de 1992, aconteceu a inauguração da obra. Entre calçadas mais largas, rua mais estreita, grandes palmeiras, floreiras, bancos e iluminação baixa, a população e o comércio local, comemoraram com grande festa o surgimento do Calçadão, visto na época, como símbolo de modernidade. A obra integrou a 1ª etapa do projeto de urbanização de Medianeira, iniciado em 1992. O Plano Geral Urbanístico era mais amplo e abrangente e foi sendo executado nas administrações subsequentes, conforme a visão de cada gestor público.

Em 2007, novas reformas foram realizadas e mudanças de regras implantadas para o tráfego de veículos na Avenida Brasília, com a construção de estacionamento, recape asfáltico e limitação dos horários de carga/descarga de mercadorias, melhorando assim o fluxo na parte central da cidade.

Ao longo da Avenida Brasília, o comércio se desenvolveu e durante décadas foi onde a vida noturna pulsava. Em vários pontos da Avenida haviam restaurantes, bares, sorveterias e até cinema, que eram verdadeiros pontos de encontro entre os jovens. Vamos relembrar alguns nomes desses estabelecimentos que existiram na avenida no decorrer dos anos para trazer a nossa memória os bons momentos vividos nesses locais: Cine Sayonara, Verdega, Guarujá, Italian Bar, Beer Park, Skina Bar – depois Variani, Partido Alto, Prisma, entre outros locais que faziam a alegria da população.
Durante os anos 2000, a Avenida viveu a chamada “era dos carrinhos de lanche”. Diversos pontos ao longo do calçadão eram ocupados por esses espaços improvisados de alimentação, que atraíam clientes e transformavam a noite em um cenário de intensa movimentação. Em torno de cada carrinho, formavam-se rodas de amigos e encontros casuais, tornando-os verdadeiros pontos de convivência social.
Essas transformações marcaram não apenas a infraestrutura da Avenida Brasília, mas também a memória afetiva da população. Cada etapa revela como o espaço urbano acompanhou o ritmo das mudanças sociais e culturais da cidade. A avenida, que já foi palco de encontros, lazer e convivência, segue sendo símbolo de identidade coletiva, guardando em suas esquinas as lembranças de uma época e abrindo caminho para novas formas de viver, de usar os espaços coletivos e de ocupar o centro.
REVITALIZAÇÃO – Hoje, diante de novas demandas de mobilidade, segurança, acessibilidade e valorização dos espaços públicos, a revitalização da Avenida Brasília se tornou urgente.
Por isso, desde o ano passado, a Administração Municipal de Medianeira iniciou as discussões com lideranças do município, representantes do comércio local e população sobre a revitalização da Avenida Brasília. Após debates, ajustes e audiências públicas, em 15 de maio deste ano foi lançado o edital de licitação e em 10 de julho, no auditório da ACIME, foi assinada a ordem de serviço, autorizando o início das obras. O investimento total é de R$ 6.390.000,00, sendo R$ 4.782.395,06 oriundos de recursos do Governo do Estado do Paraná, por meio da Secretaria das Cidades (SECID), e R$ 1.607.604,94 de contrapartida do município. “Os investimentos foram motivados pela necessidade de modernizar a cidade e oferecer um espaço público que esteja à altura do crescimento de Medianeira”, explica o vice-prefeito de Medianeira, Evandro Mees.
O prefeito de Medianeira, Antonio França reforça que tudo precisa se adaptar às transformações. “A nova Av. Brasília será um espaço humanizado, conceito de Rua Completa contemplando a todos, pedestres, ciclistas, motociclistas, veículos. Suas características tornam a Avenida um espaço mais das pessoas do que das máquinas”.
O projeto contempla a remoção completa dos passeios e mobiliário. Nas sete quadras serão executados: nova rede de drenagem superficial; pavimentação em concreto com ciclofaixa; sinalização de trânsito (vertical e horizontal), urbanização completa em paver, incluindo arborização, lixeiras, bicicletários e bancos e iluminação pública e ornamental.
Segundo o secretário de Obras de Medianeira, Isaías França Benjamim, o cronograma está estimado em 60 dias para execução de cada quadra completa, totalizando 420 dias para a conclusão da obra. “Importante frisar que a execução da primeira quadra, que está em andamento, poderá sofrer atraso para finalização, tendo em vista os problemas encontrados durante o início dos serviços e todas as tomadas de decisão que forem necessárias para a adequada continuidade. Esse prazo dilatado para execução da primeira quadra é necessário para que a obra como um todo atenda às necessidades do município, sendo que estes eventuais atrasos não devem acontecer nas quadras seguintes”.
Isaias complementa que os maiores desafios técnicos estão sendo encontrados conforme estão sendo executados os serviços. “Durante a remoção dos passeios existentes, estão sendo identificados alguns problemas, tais como fossa no passeio, caixas de drenagem desconhecidas, rede de drenagem danificada e divergente do mapeamento existente”.
Ainda segundo ele, a obra não acarretará necessidade de mudanças nos estabelecimentos lindeiros. “Eventualmente será necessária a remoção de mobiliário ou outros objetos que estejam no passeio e que não sejam de propriedade do município, devendo estes serem removidos pelos próprios proprietários”, afirma o secretário de Obras.
Mais do que uma obra de infraestrutura, a revitalização da Avenida Brasília trata-se de um investimento estratégico para a qualidade de vida da população, para o fortalecimento do comércio local e para a construção de uma imagem moderna e acolhedora da cidade
A secretária de Desenvolvimento Econômico, Márcia Hanzen, destaca que para além do transtorno momentâneo, temos que olhar a obra de maneira abrangente, considerando o impacto positivo. “A medida em que a cidade investe na sua avenida central, eixo de comércio, incentiva as pessoas a transitarem, interagirem, tornarem o comércio local vibrante e os resultados vão muito além da estética, atraindo investimentos tanto por parte dos comerciantes locais, com mais visibilidade em suas empresas, quanto por novos investidores, ocupando novos espaços para atender ao público”.
A arquiteta e urbanista da Administração Municipal, Michele Seben, reitera que “a revitalização dos espaços públicos traz qualidade de vida para seus moradores e atrai visitantes, com calçadas acessíveis, mobiliário urbano para descanso e contemplação, arborização adequada para sombra e iluminação para segurança, criando um ambiente agradável para as pessoas passarem mais tempo e consumirem no local”.
Espaços públicos iluminados, seguros e acessíveis são convidativos a nós seres humanos, que somos seres sociáveis. “Mudanças urbanísticas de grande proporção mudam a forma como as pessoas percebem a cidade e a referência que têm sobre o uso do espaço. Uma obra que impacta a cidade como um todo gera novos olhares, novos interesses e mais energia para criar coisas novas no mundo dos negócios”, completa a secretária Márcia Hanzen.
O vice-prefeito Evandro salienta ainda que quando a Avenida melhora em infraestrutura, iluminação, acessibilidade e segurança, a população se sente valorizada e ainda mais conectada à cidade. “É como se cada melhoria fosse um convite para que todos participem e cuidem ainda mais do espaço público”.
O prefeito França finaliza destacando que Medianeira tem no traçado de avenidas e ruas um desenho peculiar, a tradição de uma cidade hospitaleira e acessível até mesmo no desenho de suas vias. “No mundo moderno, com as cidades inteligentes, Medianeira está avançado com a implementação de tecnologias que garantem mais segurança às pessoas, agilidade no trânsito e beleza à cidade”.







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