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Café Analítico

O amor romântico

Somos uma geração refém dos contos de fadas. Projetamos no outro a imagem de um príncipe encantado ou de uma princesa presa na torre, maltratada por uma madrasta má precisando ser salva. Mudam os personagens, mas o enredo é sempre muito parecido: o príncipe perfeito que salva a donzela em perigo. Crescemos lendo e ouvindo estas estórias e elas foram moldando o nosso imaginário e, claro, os nossos desejos.

Acontece que na vida real ninguém é perfeito e o ‘felizes para sempre’ não é o ponto final, mas o início de uma árdua trajetória de aprendizados, doação, empatia e resiliência. E aí, a idealização do conto de fadas bate de frente com a vida real.

Geralmente, quando nos apaixonamos, não é pela pessoa em si, mas por uma projeção daquilo que pensamos ser o ideal. Enredamos o outro num personagem criado por nós mesmos e o aprisionamos numa torre, o lugar do nosso imaginário. Então, ficamos suspirando pelos cantos pensando neste ser ideal incorporado no objeto do afeto.

Não raro, escuto as pessoas falando: “Eu fiz tudo por ele!”; “Planejei viagens, jantares e a pessoa não valorizou!”; “Dei o meu melhor e ela se apaixonou por outro!”… e assim por diante.

Mas o que estas pessoas não entenderam é que o que fizeram pelo outro foi baseado no que elas achavam ser o melhor. Elas não se importaram em saber se tudo aquilo que fizeram era o que a outra pessoa também desejava. Na ânsia por satisfazer os próprios desejos, estas pessoas acabaram tropeçando na própria estória, cegas pela idealização que criaram. Quando nos doamos a alguém, precisamos pensar se aquilo que estamos fazendo é o melhor para a outra pessoa também. E podemos dizer que muitas destas frustrações têm início nos lindos e inocentes contos de fadas.

Devemos viver a vida a dois que quisermos ter, com suas particularidades, qualidades e imperfeições. Entender que o que torna uma relação encantada é, justamente, a surpresa da descoberta do outro, dia a dia. Encantar-se com o real, com a vida ao vivo. O verdadeiro amor está longe do romântico, mas da surpresa no caminho, no carinho e nos desejos mútuos.

“Amava seus erros assim como amava os acertos, porque o que eu amava, enfim, era você.” Tati Bernardi

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Por: Camyle Hart

Jornalista e Psicóloga (Crp 08/22594)
Atendimento terapêutico (45) 99932-0666

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