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Café Analítico

De vítima a algoz

Qual a medida exata do bom senso de justiça e em que momentos a dor em ser vítima pode transformar a mesma em algoz?

Essa é a questão que vem sendo levantada nas últimas semanas quando ideias e pontos de vista se tornaram julgamentos inquisidores e agressivos dentro da casa do BBB.

A maneira como alguns participantes reagiram ao desequilíbrio de Lucas foi desproporcional e contrária à causa e às mazelas que estes mesmos participantes vivenciam no dia a dia. De repente, pessoas que até então vivem na pele as dores do preconceito, do racismo, da desigualdade social, voltaram-se contra um dos participantes de maneira tão feroz, desumana e sem piedade tanto ou mais duramente que a que vivenciam na vida.

Na psicologia, há estudos que dão conta de que, como mecanismo de defesa, os indivíduos podem vir a tornarem-se aquilo que os feriu. Um modo inconsciente de, ao invés de sofrer como vítima, ser o algoz. É como se, devido às suas feridas, a pessoa sente-se incapaz de ver o sofrimento dos outros e os seus traumas podem, sim, transformar a vítima em agressor.

A ferida aberta do medo, ressentimento e vulnerabilidade podem levar à raiva, ao descontrole e aos excessos. E estes sentimentos podem ser vivenciados por quem já foi vítima de abusos, abandono e maus tratos. Então, essa sensação de incapacidade perante ao mundo cruel faz com que se protejam através de comportamentos tão abomináveis quando aos do algoz.

Como exemplo, vimos a Karol Conka que, cegada pelo seu narcisismo reativo, usa, possivelmente, as suas dores como arma em direção de qualquer um que a contrarie. De vítima, mesmo sem se dar conta, talvez, ela transformou-se naquilo que, até então, tanto desprezou: o agressor.

São pessoas que não conseguem controlar os impulsos de retaliação mediante qualquer sinal de discordância e reagem movidas pela raiva. Cada pessoa reage de uma maneira aos seus traumas. Algumas podem tornar-se mais afetivas e empáticas, enquanto outras podem desenvolver uma cegueira emocional e tornar-se tão cruel quanto quem as fere.

A dor pode fazer com que a pessoa entenda a violência como forma de linguagem e reagir ao mundo sob a roupagem de agressor.

Assim, existem milhares de Karois por aí e caberá a nós a escolha em sermos mais uma ou não.

Café Analítico

Por: Camyle Hart

Jornalista e Psicóloga (Crp 08/22594)
Atendimento terapêutico (45) 99932-0666

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