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Café Analítico

O que a fofoca diz sobre nós

Há alguns dias me vi envolvida numa trama, estilo mexicana, sem nem fazer ideia de como minha vida tinha parado numa roda de fofoca. Depois, graças a um terceiro elemento, soube como o tornado formou-se: uma pessoa, até então de confiança, que passou informações da minha vida pessoal pra uma terceira pessoa, que passou para uma quarta e que retornou até mim num enredo completamente distorcido e equivocado. Coisa de gente maldosa, mesmo, que não tem muita alegria na vida e precisa provar pra si mesma que os outros são mais infelizes e, caso não sejam, então inventa histórias para tentar convencer-se.

O mais irônico é que os envolvidos, menos eu, têm o telhado de vidro, mas sentiram-se no direito de tentar me coagir. Em vão, porém, desgastante e desnecessário. Tudo veio à luz, mas até ser esclarecido, tive que esquentar a cabeça com coisas que não precisava. Uma energia dispendida em vão.

Mas todo esse contexto exemplificado acima, foi para entrar no assunto de como a fofoca pode dizer mais do fofoqueiro do que da vítima da calúnia. Tem uma frase do Freud que resume tudo: “Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo.”

Somos curiosos por natureza e, culturalmente, somos interessados na vida alheia. Porém, o que vemos na prática é que, geralmente, esta curiosidade tem viés negativo. Há muita maledicência e tentativa de causar intrigas. Até a intimidade das pessoas costuma permear estas conversas. Qual o interesse em saber sobre a vida íntima do outro, senão me conformar da mediocridade da minha?!

A fofoca é tóxica e desrespeitosa e, na maioria das vezes, não condiz com a realidade, pois a história passa a ter o enredo que convém ao fofoqueiro. Sabe aquela história de que quem conta um conto aumenta um ponto?

Os fofoqueiros, via de regra, sofrem de baixa autoestima e têm a necessidade de chamar a atenção. Muitas vezes, a vida é toda conturbada, cheia de conflitos interpessoais e equilíbrio psicológico não há.

São pessoas inseguras e carentes, que fazem de tudo para chamar a atenção para si mesmas através da “notícia que trazem quentinha”. Soma-se isso à inveja, pois quando o fofoqueiro desvaloriza o outro ele está tentando emitir a mensagem de que é melhor do que aquela pessoa. Isso não é consciente e, em psicanálise, expõe o mecanismo de defesa da projeção, em que a pessoa tenta defender-se dos próprios desejos, imputando-os ao outro.

“Não me conte o que eles falaram a meu respeito. Diga-me, apenas, por que eles estavam tão confortáveis em dizer isso na sua frente.”

Café Analítico

Por: Camyle Hart

Jornalista e Psicóloga (Crp 08/22594)
Atendimento terapêutico (45) 99932-0666

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