Uma reflexão sobre a depressão e o tempo
Por Camyle Hart . 14 de novembro de 2024 . 13:58
Nos dias de hoje, um dos sentimentos mais comuns que as pessoas relatam é a sensação de que o tempo está passando rapidamente. Uma percepção de que a vida está escorrendo pelos dedos, sem que se consiga aproveitar como gostaria. Esse fenômeno, muitas vezes, é relacionado ao avanço das tecnologias, à sobrecarga de informações e à velocidade das nossas rotinas. No entanto, é preciso olhar para essa sensação com mais profundidade, especialmente quando ela se entrelaça com a depressão.
Tenho observado que a sensação de que o tempo está fugindo não é apenas um reflexo da acelerada modernidade, mas também um sintoma presente em muitas pessoas que enfrentam a depressão. A doença, caracterizada por um estado persistente de tristeza, falta de motivação e uma visão distorcida da realidade, pode fazer com que o tempo pareça não ter valor. Quando alguém está deprimido, o “aqui e agora” se torna uma existência insustentável, em que a pessoa não se conecta ao presente e perde a capacidade de saborear as pequenas alegrias do cotidiano.
A depressão cria um distanciamento do que chamamos de “vivência plena”. Ao mesmo tempo que o indivíduo sente que o tempo passa rápido demais, ele se vê incapaz de aproveitar as oportunidades, como se estivesse sempre em uma corrida, mas sem forças para seguir adiante. O presente, portanto, se torna um fardo. As atividades que antes geravam prazer tornam-se apenas obrigações vazias, e os dias se tornam uma sucessão de momentos sem significado. Isso não apenas gera uma sensação de perda, mas também de desconexão com o mundo ao redor.
Esse fenômeno é exacerbado pela cultura contemporânea, que, ao enfatizar o “agora”, a produtividade e a velocidade, cobra um ritmo que muitas vezes não é compatível com o tempo necessário para processar emoções ou para cultivar uma vida interior saudável. A constante demanda por mais — mais trabalho, mais atividades, mais conectividade — muitas vezes leva as pessoas a se desconectarem do que é essencial. O conceito de “viver o presente”, que se tornou uma espécie de mantra na sociedade atual, pode ser desafiador para quem está lidando com a depressão, pois se torna difícil estar presente em um mundo interno cheio de angústias.
O processo terapêutico pode ajudar a resgatar essa conexão com o tempo, ensinando a viver de maneira mais consciente, valorizando cada pequeno momento e permitindo que a pessoa recupere o controle de sua vida. Afinal, o tempo não é inimigo de quem vive com consciência e paciência, mas sim um aliado de quem aprende a saborear os pequenos momentos da vida, mesmo que em seu próprio ritmo.
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