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Centro de Medicina Tropical da Tríplice Fronteira planeja expansão das atividades

Ideia é transformar a estrutura em referência para o diagnóstico de sanidade animal, atendendo cooperativas da região Oeste. Projeto tem apoio da Itaipu.

Única planta da América Latina adaptada para fazer exames em material genético tanto de humanos como de animais, dentro do conceito de saúde única, o Centro de Medicina Tropical (CMT) da Tríplice Fronteira, em Foz do Iguaçu (PR), se prepara para expandir os serviços e atender cooperativas que atuam no setor do agronegócio. A ideia é transformar o espaço em um centro de referência para diagnóstico de sanidade animal, oferecendo exames genéticos, microbiológicos e físico-químicos de alta qualidade.

A expansão abre um novo e amplo campo para o CMT, que faz parte da estrutura do Hospital Ministro Costa Cavalcanti (HMCC) e conta com apoio da Itaipu Binacional. A região Oeste do Paraná concentra o maior rebanho de suínos do Paraná e uma das maiores cadeias de produção de frango do mundo, abrigando as grandes cooperativas do País. Também produz carne bovina e leite. Exames de sanidade que hoje são feitos fora da região, com um custo maior e demora na obtenção de resultados, poderiam ser feitos no laboratório do CMT.

O diretor-geral brasileiro de Itaipu, general Joaquim Silva e Luna, avalia que a nova estrutura poderá favorecer especialmente as cooperativas que trabalham com a exportação de carnes. Laudos oficiais, com selo do Ministério da Agricultura, poderiam ser emitidos em menos de 24 horas, dando agilidade a processos de movimentação e liberação de cargas. “Um centro de referência aqui na região Oeste do Paraná geraria uma economia enorme para essas cooperativas, elevando a competitividade do produto paranaense no mercado exterior.”

“Nosso laboratório pode contribuir com o desenvolvimento regional, ofertando exames que atestem a qualidade e a sanidade destes produtos”, enfatiza o diretor superintendente do HMCC, Fernando Cossa.

O responsável técnico pelo laboratório, Robson Delai, diz que o CMT já iniciou os contatos com as cooperativas, que demonstraram interesse no serviço. O próximo passo será receber o aval do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), que irá avaliar a estrutura física e os equipamentos de centro. Em seguida, inicia-se o processo de acreditação junto ao Ministério da Agricultura.

“Teremos que indicar ao ministério quais os exames nós queremos prestar. Os técnicos vêm ao laboratório e acompanham todo o rito de caminho de cada exame. Se estiver tudo ok, o laboratório é chancelado”, explica. Delai estima que em dois anos será possível concluir o processo de acreditação e iniciar a oferta dos serviços.

Os novos exames poderiam diagnosticar tanto as enfermidades mais comuns em frangos, bovinos e suínos, como a salmonelose (infecção provocada pela bactéria salmonela) ou doenças do aparelho respiratório, até doenças as mais raras e inexistentes no Paraná (como peste suína). Outro serviço que poderia ser oferecido é o monitoramento da qualidade do leite produzido na região. “Isso é importante para a cooperativa, porque a qualidade do leite interfere diretamente no preço do produto.”

A interrupção da vacinação de febre aftosa no rebanho do Paraná, anunciada pelo governo já para este mês de novembro, é outro fator que reforça a necessidade de um centro de referência na região. A condição de área livre de aftosa sem vacinação pode abrir novos mercados para os produtos paranaenses, mas também vai impor novas condições e responsabilidades. “A tendência é que cada vez mais os mercados externos exijam controles mais rigorosos dos produtos.”

Sobre o CMT

O Centro de Medicina Tropical foi inaugurado em janeiro de 2017 e conta com um moderno laboratório de biologia molecular, de 240 metros quadrados. Em pouco mais de dois anos e meio, já realizou mais de 4 mil exames em vetores (mosquitos) para identificar a circulação de vírus de doenças como chicungunya, zika e dengue dos tipos 1, 2, 3 e 4. A ação ajudou a evitar ou minimizar epidemias de dengue e outras doenças em Foz do Iguaçu e região.

Também foram realizados cerca de 400 exames em material genético humano, 400 em cães, 200 em equinos e 120 em primatas, além de 700 exames de DNA para verificação de casos de leishmaniose e outras enfermidades. Os serviços são solicitados pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), da Secretaria Municipal de Saúde, e clínicas veterinárias.

Antes do CMT, o município tinha que esperar a notificação da doença, coletar amostras de sangue humano e encaminhar o material para Curitiba, para análise. O resultado demorava até 90 dias, tempo que permitia o alastramento da doença.

O centro inverte essa lógica, aproveitando-se da estratégia do município em espalhar armadilhas para insetos na cidade (especialmente o Aedes aegypti). Amostras do mosquito são analisadas pelo CMT e, se o exame indicar circulação viral, o Município pode imediatamente desencadear ações de bloqueio nas regiões afetadas. Desta forma, elimina-se o mosquito antes da contaminação humana.

“Quando você pesquisa a partir do mosquito contaminado, e não do doente, é possível reduzir pela metade as notificações em humanos”, salienta. O método do CMT já foi reconhecido por autoridades de saúde do Brasil e também pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), órgão vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU). A experiência também será divulgada em breve em artigo científico pela revista Vector-Borne Zoonotical Disease, uma das dez mais importantes na área de doenças tropicais do mundo.

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