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Cronicando

O COSTUREIRO

Acordou, olhou para o teto, deu aquela espreguiçada, e levantou-se, como de costume foi ao banheiro, ainda sonolento nem olhou para o espelho, voltou ao quarto, abriu o guarda roupas e se assustou!
_Meu Deus! Onde estão minhas roupas?
Reparou que havia apenas uma muda de roupa, muito bem dobrada por sinal, mas era apenas uma muda de roupas, o guarda roupas estava vazio. saiu pela casa assustado, olhando para todos os lados, procurou por toda parte e nada.
_O que será que houve? Pensou em silêncio – só de cueca e chinelos – olhando atônito para a muda de roupas que solitária ocupava o enorme guarda roupas. Então, com um cuidado extremamente fora do habitual, transportou a muda de roupas para cima da cama e vagarosamente foi desdobrando e abrindo as duas peças, e ao passo que ia desdobrando, também ia ficando cada vez mais assombrado.
_Mas o que é isso, uma única muda de roupas e ainda cheia de remendos, e olha aqui ainda tem alguns rasgados? Não estou entendendo nada, será que estou sonhando ou delirando?
Com esses pensamentos fervilhando em sua cabeça, o pobre homem não conseguia nem sequer sair do lugar, ficou ali, observando, tentando entender o havia acontecido.
Lembrou-se que tinha que sair, mas como sair para rua com uma roupa rasgada e cheia de remendos, e o pior é que eram remendos de vários tecidos diferentes, cores diferentes, e ainda tinham remendos mais antigos e outros mais recentes, mas eram de qualquer forma remendos, sem contar os rasgados ainda por serem remendados, como sair assim para rua?
Caminhou a passos lentos e meio desorientado, olhou pela janela, e para sua surpresa, viu que todos estavam com suas roupas rasgadas e remendadas, com tecidos diferentes cores diferentes, uns mais antigos, outros mais recentes.
_Com certeza isso é um sonho! Pensou ele, esfregando os olhos para ter certeza, mas quando olhou novamente nada mudara. Todos caminham tranquilamente com suas roupas rasgadas e remendadas, se cumprimentavam, sorriam, estavam por todas as partes, nos cafés, na padaria da esquina, nos ônibus, nas ruas, por toda a cidade pessoas, rasgadas e remendadas, umas com mais remendos outras com menos. Então, vestiu-se com o que tinha sobrado para si e saiu, percebeu que ninguém havia reparado em seus remendos ou lugares ainda a serem consertados, estava rasgado, mas ninguém se importava, tinha medo dos remendos antigos se abrirem e tentava cobrir as partes rasgadas, olhou em volta e viu que todos pareciam nem notar que ele estava ali. Aos poucos foi relaxando e como todos os outros seguiu seu dia, sua semana e sua vida.
A cada manhã acordava, abria o guarda roupas e estava lá sua muda de roupas, com mais alguns remendos e outros rasgados para ir consertando ao longo do dia. Aprendeu que seria sempre assim, as vezes uns rasgados são maiores que outros e leva mais tempo para ser consertado, mas todos os rasgados tem conserto. Os remendos se forem bem feitos, podem durar muito tempo, mas é sempre bom dar uma revisada, para que não abram durante o caminho. Novos rasgados vão aparecer, mas sempre terá agulha, linha e remendos para consertar, o mais importante é que o costureiro tem que ser você, pois só você sabe onde está rasgado, onde precisa ser consertado, os remendos estão por aí, amigos, família, amores, encontros e desencontros, compondo a roupa da vida. Não tenha vergonha dos seus remendos, todos temos remendos, uns mais que outros, então seja agulha, linha, remendo na vida dos outros, assim como tantos foram na sua, mas deixe que eles sejam os costureiros.

Afinal, será que existem “roupas” sem rasgados ou sem remendos?

Por: Aladir Carlos da Silva, Ator, Diretor,
Dramaturgo, Produtor Teatral e Cronista.

“Que Deus pai todo poderoso olhe por cada um de nós, nos abençoe,
nos guie e nos guarde, em nome de Jesus Cristo, Amém!?”

Cronicando

Por: Aladir Carlos da Silva

Ator, Diretor, dramaturgo, produtor teatral e cronista.

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