Especial

BIOGRAFIA

Conheça a história de Roberto Marin e seu acervo histórico

Quem visita a biblioteca particular do gaúcho de nascimento e medianeirense de coração, Roberto Marin, fica impressionado pela qualidade, diversidade e quantidade de livros em casa: cerca de 1.500 obras, divididas em assuntos como política, história, sociologia, filosofia, literatura brasileira e estrangeira, socialismo, economia, psicologia, meio ambiente, biografias e assuntos regionais. Para conhecer esse espaço e fazer um mergulho no universo dos livros, a reportagem aproveitou a ocasião (tempos de quarentena) para falar sobre raridades, colaboração com o Jornal Mensageiro e o livro de 55 anos da Lar Cooperativa Agroindustrial.

Natural da comunidade Novo Paraíso, município de Nova Palma (RS), Roberto Antonio Marin nasceu em 1954 em uma família de sete irmãos. Seus pais, pequenos agricultores, são descendentes de imigrantes italianos, que vieram da região do Veneto, Província de Belluno, para o Brasil por volta de 1883 e  se fixaram na região Central  Rio Grande do Sul. “Vivi a infância e adolescência naquele local, estudei numa escola multisseriada, fiz ginásio, segundo grau em Santa Maria e cursei Filosofia na Universidade Federal de Santa Maria. Formado em 1981, ainda durante o governo militar, participei de diversas manifestações de grupos de esquerda e meu nome ficou marcado na região. Passei a ser um professor desempregado, trajetória que deixei registrado em livro. Em todos os locais que eu passava havia vagas para professor, mas não era chamado, contratado. Até que um cidadão um dia falou, no linguajar gauchesco: ‘você deve deitar o cabelo daqui’, isto é, sair do Rio Grande do Sul. ‘Você é oposição aos militares e, enquanto eles estiverem no poder, não conseguirá nada’. E parti para Estado do Paraná. Em 1982 cheguei à Medianeira com o apoio da dentista Bernadete Tassele Bantle. Atuei como professor por 24 anos. Casei com Ivanete Moraes Marin, tenho uma filha engenheira agrônoma (Talita) e nos últimos 17 anos trabalhei na assessoria de imprensa da Lar Cooperativa. Ao longo dos anos investi para formar a biblioteca que tenho, e sinto um enorme prazer em receber visitas, desde que agendadas, para um sempre bem-vinda conversa sobre a palavra escrita”, descreve Roberto Marin.

Observando a sua biblioteca, há uma série de livros que tratam de diversos assuntos, dentre eles obras relacionadas à região Oeste escritas por gente do Paraná, ou que esteve no Estado “Tenho vários livros do saudoso prefeito de Medianeira Adolpho Mariano da Costa, entre eles:  O Donatário, Parábola da Terra sem Males, Canal de Desvio, Mergulho no Mar de Minas, mais de 30 contos e matérias que escreveu para jornais. Existe um acerco de obras sobre a História de municípios da região como de Santa Helena, Missal, Matelândia, Palotina e Cascavel; a coleção da Revista Mosaicos escrita pela Mirtis Maria Valério. De todos que já comprei ou ganhei, o mais antigo é do Domingos Figueiredo, de 1937 que conta a história do Oeste do Paraná”, as Crônicas do Oeste de Heitor Lothieu Angeli, a Taipa da Injustiça de Juvêncio Mazzarollo, Ara´Puka de Rogério Bonato, a obra completa do poeta Beto Petry,  entre uma centena de outros”, menciona Marin.

E ao falar sobre algumas raridades na biblioteca, o escritor complementa: “Tenho um livro de poesias escrito pelo médico Ácrata Martins, primeiro pediatra de Medianeira. Também o ‘menor’ livro do mundo, que comprei faz 20 anos por uma editora peruana. Outra raridade é o Dicionário de Língua Portuguesa que leva assinatura do presidente brasileiro Jânio Quadros, que ganhei da Nadir Della Pasqua. E aquele que considero o primeiro livro lançado oficialmente em Medianeira, Professor Desempregado, de minha autoria, ano de 1984, revisado pelo Orlando Külkamp; um grande professor que foi presidente da Câmara de Vereadores”, pontuou.

Enquanto o bate papo acontecia, Roberto Marin mostrava seu belo acervo, citando a obra completa do Pablo Neruda, livros do Shakespeare, Voltaire, Oscar Wild, Graciliano Ramos, Mário Quintana, Machado de Assis, Cecília Meireles, Jorge Luiz Borges, Victor Hugo, Sebastião Salgado, Darcy Ribeiro, José Bonifácio, Darwin, Freud, Platão, Karl Marx, Descartes, Dostoiévski, Padre Montoya, Isabel Allende, Eliane Brum, Mario Vargas Llosa, Domingos Pellegrini, os quatro volumes sobre a Ditadura Militar Brasil de Elio Gaspari, relatos, reportagens e fotos sobre o fechamento e tentativas de reabertura da Estrada do Colono, etc.

JORNAL MENSAGEIRO – Também é válido relembrar que Roberto Marin foi um grande colaborador do Jornal Mensageiro, fazendo reportagens para as colunas De Sol e Lua e Memória Terrunha. “A primeira comecei a escrever após notar que muitas pessoas estavam saindo de Medianeira. Meu ponto de referência foi o então prefeito Ivo Da Rorlt; que era empresário, político, educador, fantástico desportista, comunicador, pessoa simpática. A partir do momento que ele precisou ir embora por questões políticas, deixou um vazio na cidade; assim como aconteceu com tantas outras pessoas que deixaram Medianeira por outros motivos e estavam caindo no esquecimento. Para isso, criei o pseudônimo ‘De Sol e Lua’: as que brilhavam (Sol) eram as pessoas que contribuíram muito na colonização para o crescimento e desenvolvimento da região; outras, um dia, por diversas razões, acabaram por perder o brilho. E para não as jogar no inferno de Dante, joguei-as na Lua. Assim passei a publicar depoimentos de cerca de 200 pessoas que brilharam e fracassaram entre os anos de 1989 até 2004. As reportagens estão no livro De Sol e Lua, por onde anda? Depois surgiu a coluna Memória Terrunha, ou seja, coisas da terra. Este novo desafio foi provocado porque também notei que a memória da região Oeste estava se perdendo com o tempo, especialmente com as pessoas que eram agricultores, produtores rurais. Passei a dar vez e voz as pessoas que só seriam manchete num santinho de Sétimo Dia ou ocorrência policial. Fui atrás desses trabalhadores com apenas um pedido a todos: ‘Conte-me quem é você’? e deixava a conversa rolar. Cada um tem sua história, sua memória, seu passado, seus amores, desavenças. Geralmente os entrevistados diziam: ‘Mas eu só estudei até o segundo livro, mal consigo fazer contas e não sou bom das palavras e você quer me ouvir, que é estudado’. Era um momento mágico porque, ouvindo os causos, notava o brilho no olhar das pessoas, transmitiam ar de satisfação por sentirem-se importantes, eles viravam notícia, manchete pela humildade”, relembra Roberto.

LAR COOPERATIVA – Além da formação em filosofia, Roberto é historiador (entre 2018-19 fez especialização em História na Unipar em Cascavel), também poeta, declama, e estuda física quântica.  Os 17 anos de serviço à Lar Cooperativa Agroindustrial deram-lhe o cacife para escrever 79 edições da Revista da Lar, o livro “Lar na História. Os 40 anos da Cooperativa Agroindustrial Lar” e está para ser lançado: “Lar 55 anos. Passado, presente, realidade e Imaginação”, uma obra fotográfica. “Levei dois anos para editar esse livro e, não posso esquecer que tive uma fantástica equipe de colaboradores. Fiz uma ampla pesquisa, começando com oito mil fotos, selecionei duas mil na segunda fase e finalizei com 250 retratos, todos com legendas, em sete capítulos. No entanto, a Diretoria Executiva da Lar, devido à pandemia, ainda não definiu data para lançamento”, informou

VISITAS – E quem estiver interessado em conhecer a biblioteca, sinta-se convidado em visitá-la. “A princípio, não empresto meus livros, mas podemos conversar sobre dicas de leituras clássicas, orientações sobre pesquisas, ou sobre outros temas como história do Paraná, Shakespeare, Gabriel García Márquez e outros escritores”, concluiu Roberto Marin.

Quarentena

Roberto Marin

Caiu o breu da noite sobre Medianeira e outras tantas cidades.

A população aderiu ao toque de recolher.

Poucos carros singram pelas ruas e avenidas quase desertas.

O silêncio se faz sentir nas casas à meia-luz.

O estresse domina nos lares cristãos, ou não.

Resta apenas uma palavra.

Esperar.

E nada mais.

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