Especial

VIA SACRA

Medianeira nos caminhos de Cristo

O Turismo somado à Religião extrapola o conceito de Turismo Religioso, que passa a agregar novos sentidos: desenvolvimento, oportunidade, valorização da fé e espaços adequados à peregrinação.

No ano em que a comunidade do Morro da Salete, em Medianeira, completa 60 anos, o projeto “Via Sacra – peregrinação na Rota da Fé” começa a se tornar realidade. Somado ao plano de revitalização do Morro, que está em fase de captação de recursos junto ao Governo do Estado, está a arte de Daine Mari Chibiaqui, que vem para completar, tornando o local verdadeiramente um espaço de Turismo Religioso. “É um projeto magnífico, porque além de valorizar o turismo local, valoriza também a religiosidade. E torna o Morro da Salete, um ponto conhecidíssimo, cada vez mais adequado ao turismo. Aliado a isso, dar o devido valor a uma artista local. Todo o trajeto será melhorado, com iluminação, potencializando o nosso município como Rota da Fé”, afirmou o prefeito de Medianeira Antonio França, no lançamento do projeto.

A cerimônia aconteceu na sala de reuniões do gabinete e contou com a presença de autoridades locais, da artista plástica Daine Mari Chibiaqui, o historiador Sander de Paula, a presidente do Comturmed Tássia Copini, Padre Sérgio Bertoti, representando a Mitra Diocesana e a Paróquia a Nossa Senhora Medianeira, a presidente da comunidade do Morro da Salete Deize Zanuzo Pivotto e moradores, a Gestora de Projetos em Turismo e Smart Cities no SEBRAE/PR Maísa Silvestre, Claudiomir Martini representando a Secretaria de Estado do Turismo, alunas da artista, servidores e imprensa.

A presidente da comunidade do Morro da Salete, Deize Zanuzo Pivotto, destacou que o momento é um marco histórico. “O caminho para se chegar até o Morro sempre foi de muita dificuldade, mas os romeiros e turistas nunca deixaram de ir. E as coisas vão sempre melhorando, crescendo. Primeiro teve a construção da escadaria, agora a revitalização, mas a Via Sacra naquele trajeto, representando o caminho de dificuldade, chegando ao alto do morro, aonde se celebra uma vitória, é para nós um reconhecimento da importância do nosso espaço”.

Da mesma forma, a secretária de Desenvolvimento Econômico de Medianeira, Márcia Hanzen, salientou o ineditismo do Projeto. “Estamos fazendo uma obra inédita com a artista Daine Chibiaqui, que já é medianeirense há 30 anos e tem uma representação mundial na Arte e agora na Arte Sacra. Para nós, essa parceria para o desenvolvimento da Via Sacra, para posteriormente colocá-la dentro do projeto da escadaria do Morro, significa alavancar o Turismo Religioso de uma maneira profissional, como nunca foi feito na região até hoje. A partir deste movimento, nós vamos ter verdadeiramente um atrativo religioso para colocar Medianeira de fato na Rota da Fé, no circuito de Turismo Religioso do Paraná”.

O Padre Sérgio Bertoti, representando na ocasião a Mitra Diocesana e a Paróquia a Nossa Senhora Medianeira, ressaltou o sonho da comunidade de transformar o Morro da Salete em Santuário. “Essa iniciativa das estações da Via Sacra vai fortalecer e potencializar o Turismo Religioso, com a presença de peregrinos e fiéis nesse local importante. Isso é um movimento necessário para que haja a possibilidade de se transformar em Santuário, mas a decisão é do Bispo Diocesano e de seus Conselhos, de levar o assunto à Dignidade Santuária. A comunidade está fazendo a sua parte, o dever de casa, incentivando e apoiando essas ações e quem sabe um dia possamos dizer que o Morro da Salete é um Santuário dedicado a Nossa Senhora”, esclarece.

No lançamento foram apresentados os primeiros passos do trabalho artístico que está sendo desenvolvido. Ele envolve a confecção de 14 estações da Via Sacra, que serão instaladas em capitéis desde o portal de entrada da escadaria do Morro da Salete até o topo, e possivelmente a 15ª estação ficará dentro da Igreja. As obras de arte estão sendo desenvolvidas pela artista Daine Chibiaqui, em parceria com o historiador Sander de Paula. Elas serão feitas em azulejo e pintadas em estilo português. “Chegamos à conclusão de que o azulejo seria a melhor opção, porque vai durar muito tempo. Além da durabilidade, a beleza nem se compara. Será uma pintura monocromática, em azul cobalto, que é a usada em azulejo português. A partir de imagens, que são releituras de cada uma das estações, eu monto o painel em cima da mesa e faço o desenho completo, com um azulejo completando o outro. O painel tem 60 centímetros de base por 75 cm de altura e o azulejo é 15 x 15 cm. É uma imagem inteira, em pequenos blocos. Depois eu preparo a tinta, que é um pigmento importado e de primeira qualidade. É só o pigmento e um óleo, aí faço a pintura monocromática, através da pincelada. Como a pintura em azulejo não seca, ela precisa ser queimada em forno a 850 graus por 24 horas, ficando 72 horas em resfriamento”, explica Daine.

Ela conta que antes de começar o trabalho procurou pessoas especialistas em pintura em azulejo português para que o resultado fosse perfeito. “Fui fazendo, me aprimorando e cada vez mais gostando do resultado. Estou no segundo painel, é bem demorado. E eu gosto de pintar sozinha, para que qualquer dúvida que eu tenha, possa parar, pesquisar e resolver”, comenta.

Além da produção artística, cada detalhe desde a criação, produção, pinturas, detalhamentos, queima e finalização com a colocação das estampas nos capitéis, no caminho da escadaria, estão sendo registradas e serão transformadas em documentário histórico, para compor o patrimônio histórico-cultural material e imaterial do município de Medianeira. “Me sinto grata e feliz de poder participar desse momento, e saber que as pessoas poderão fazer a visitação, a peregrinação e, através da minha arte, visualizar e ter o sentimento de tudo aquilo que Jesus passou até chegar ao calvário”, reitera a artista.

UM POUCO DE HISTÓRIA – Como tudo na vida tem um sentido e um propósito, a arte na vida de Daine é repleta de significados. E a obra da Via Sacra, que ela está desenvolvendo agora, foi sendo gestada desde criança, numa série de coincidências e encontros. “A minha pintura em tela começou porque eu vi uma pintura Sacra na Igreja da minha cidade Natal, Capanema, foi quando começou o sonho de pintar. Minha avó materna me deu os materiais para eu iniciar. Fiz apenas uma aula e o restante aprendi sozinha. Outro ponto é quando criança, nas férias, nós íamos ao Rio Grande do Sul, para visitar a minha avó paterna. Ela morava no sítio e no caminho de Iratiba até a Vila Esperancinha, havia os capitéis na beira da estrada, que eram pequenas igrejinhas, e aquilo nunca me saiu da cabeça. Inclusive quando eu tinha as minhas amadas alunas já aqui em Medianeira, D. Lourdes Andreola, D. Elza Biesdorf, D. Nair Meaurio, D. Íris Zanella, o sonho de vida delas eram duas coisas: que aqui em Medianeira tivesse uma Casa de Memória e um Museu e que fossem construídos esses capitéis. Aqui dentro do atelier eu cresci como artista e sempre vendo esse sonho delas. E isso se perpetuou, mas eu nunca imaginei que um dia alguém me convidaria para fazer parte de um projeto assim. E quando a Márcia Hanzen me mandou mensagem, aquilo tudo voltou à tona na minha mente: as minhas alunas queridas e o sonho delas. Eu respondi à Marcia que eu não sabia como fazer, mas que poderíamos pensar juntas como realizar. Passou um tempo e eu não conseguia me dedicar nisso, e a Márcia me cobrando, aí eu comentei com o Sander, que trabalha comigo, e ele me disse que toparia fazer. Porque não é só a pintura, é um projeto que envolve muitas coisas e muita responsabilidade. Tínhamos que pensar no material, algo durável, e como iríamos fazer. Ele entrou então com toda essa parte de pesquisa, de projeto, e o resultado é uma parceria, que já está dando certo”, finaliza Daine Chibiaqui.

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