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Nosso Povo

O amor pela música raiz e pelo filho autista

“A foia seca cai na mata verdejante que o vento leva distante do ramo que ela nasceu. O meu destino é igual a foia seca, por também me ver distante de um amor que já foi meu”. Empunhando a viola e cantando a música Folha Seca, de Zé Fortuna & Pitangueira, Arnaldo Gottardo, 82 anos, natural da Vila Santa Tereza do Progresso (perto de Maravilha, Santa Catarina), morador de Medianeira há 42 anos e dono do Recanto da Viola; é o entrevistado desta semana da Coluna Nosso Povo.

A oportunidade de morar em Medianeira surgiu após convite de seu primo Ítalo Mezzaroba para tocar um bar na Avenida Brasília. “O movimento era muito bom, as pessoas que passavam pela região paravam aqui para descansar”, relembra Gottardo.

Ao conversarmos, não poderíamos deixar de falar sobre música raiz. “Tocar viola ou violão são meus passatempos favoritos, aprendi por conta a tocar Tonico & Tinoco, Tião Carreiro & Pardinho, Zico & Zeca, Liu & Léo, Zé Fortuna & Pitangueira. Meu primeiro instrumento, comprei de dois rapazes que estavam discutindo e, para evitar que brigassem, dei um pouco de dinheiro para eles e saíram contentes”, disse Arnaldo, em meio a risadas. “Às vezes algum amigo vem no bar, pede para eu tocar moda de viola e, mesmo sem muita disposição, tomo uma cervejinha e eu fico inspirado”, afirmou.

Em meio à prosa animada, Sr. Arnaldo lembrou do filho Dirceu, que era autista e faleceu com 45 anos em 2016. “Mesmo com o grau elevado de autismo, o amor que tínhamos por ele era especial. A maior felicidade dele era tomar coca cola e, quando eu tocava viola e cantava, começava a dançar. Saíamos para caminhar pela vizinhança, no entanto, chegou um momento que eu não poderia mais sair por causa da minha idade. Às vezes ele escapava e tínhamos trabalho para encontrá-lo, com medo que poderia perder-se. Como qualquer deficiência ou transtorno, tínhamos que ter muita paciência e amor para cuidá-lo. Ele ficou internado no hospital e faleceu de parada cardiovascular. Mesmo que seja uma dor que levarei para o resto da vida, tenho certeza que daqui alguns anos nos encontraremos novamente”, ponderou emocionado.

E ao encerrarmos a matéria, lembramos que Arnaldo é assinante do Jornal Mensageiro há muitos anos. Todas as quintas-feiras, entregamos o semanário no Recanto da Viola e, ao encontrá-lo, sempre fala: “O jornal chegou, trazendo notícias fresquinhas e boas para nós”, avisa, sempre bem humorado.

Nosso Povo

Por: Tanner Rafael Gromowski

Formado em Letras português/espanhol pela UDC Medianeira, pós graduado em Língua Portuguesa pela FAG Cascavel, trabalha como repórter e redator desde 2013 no jornal Mensageiro.

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