O legado de Gabrielly
Texto por Ana Cláudia Valério . Fotos por Divulgação/ Arquivo Pessoal . 24 de agosto de 2023 . 14:41
Giovane Elias nasceu em Foz do Iguaçu em 28 de abril de 1983. Filho de Írio Elias e Júnia O. Elias, tem uma irmã, Denise Elias. “Nos mudamos para Medianeira quando eu tinha oito meses. Em 2005 conheci minha esposa Marlene e em 2006 nos casamos. Ela já tinha uma filha, Mariane, de um relacionamento anterior. Lembro-me que desde minha infância tinha o sonho de ter uma filha e já havia até escolhido o nome: Gabrielly. E em 10 de junho de 2009 a minha tão sonhada menina nasceu. Saudável e ativa como toda criança. Porém, em outubro de 2011, com dois anos e quatro meses, ela começou a apresentar alguns sintomas, como fraqueza, abdômen aumentado e muitas manchas roxas pelo corpo. Mas o que foi determinante para a procura de cuidados médicos, foi numa manhã em que seu rosto amanheceu com muitas manchas avermelhadas. A princípio o pediatra já suspeitou de leucemia, mas indicou que procurássemos um hematologista. Foi feito um hemograma e com o resultado em mãos o médico nos afirmou ‘há malignidade nos resultados’”, recorda Giovane.
A notícia tirou o chão da família, mas o foco foi o tratamento imediato, pois o estado de Gabrielly era grave. “Como foi difícil olhar para ela, uma criança tão pura, tão pequenina e imaginar o sofrimento que teria que passar, um tratamento tão doloroso. E realmente foi assim… Foram dias muito difíceis, quanta dor, quanto choro… E por quase três anos vimos nossa menininha ser obrigada a amadurecer e ter muitas vezes suas brincadeiras de infância serem interrompidas por internações, cirurgias (foram três) e fortes reações às quimioterapias. Foram muitas idas e vindas ao Hospital Uopeccan de Cascavel, onde ela fez a maior parte do tratamento”, conta o pai.
Quando Gabrielly estava na fase mais branda do tratamento e com a doença já em remissão, em fevereiro de 2013 nasceu o Pedro, terceiro filho, e em julho, após indício de pneumonia, a família recebeu outra notícia que abalaria novamente as estruturas: a leucemia havia voltado (recidiva). “Foram feitas duas novas tentativas de protocolos diferentes e muito agressivos, porém sem nenhum resultado. Outra opção seria o transplante de medula óssea, então ela entrou para a fila do REDOME (Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea). Também fizemos a busca em nossa família, mas nenhum de nós era compatível. Então veio a pior notícia de nossas vidas: a Medicina nada mais poderia fazer por ela. Seriam apenas cuidados paliativos”, relembra Giovane.
Mesmo diante do “não” da Medicina, a família continuou firme na fé, como foi desde o primeiro dia do diagnóstico. E foi pela fé que suportaram todo o processo. “E pela fé sobrevivemos ao pior dia de nossas vidas, quando em 1º de julho de 2014 vimos nossa filha, com apenas cinco anos e 20 dias, dar seu último suspiro. Apesar da dor inexplicável de perder um filho, foi possível enxergar o cuidado e amor de Deus através de tantas pessoas generosas que Ele colocou em nossos caminhos. Como foi confortante ver tantas pessoas se mobilizando para doar sangue e para se cadastrar como possíveis doadores de medula óssea. Pessoas que nos ajudaram financeiramente, emocionalmente e espiritualmente”, agradece.
E o legado de Gabrielly extrapolou o amor da família e amigos. Foi a partir de sua história de luta que nasceu a Associação Anjos do Bem, que ajuda pessoas em tratamento de câncer. “É muito gratificante ver que através de pessoas tão especiais como nossos amigos Aninha Santos Lima e Michael Barreto Lima, fundadores da Associação, que com tanto esforço e dedicação conseguiram trazer uma unidade do Hospital Uopeccan para Medianeira, o que com toda certeza trará mais conforto e dignidade para as pessoas que passam por esse tratamento, que é tão difícil e doloroso. Somos imensamente gratos a Deus e a todos os que colaboraram para que esse projeto se realizasse. E nossa eterna gratidão pela homenagem recebida, o ambulatório de quimioterapia recebeu o nome da nossa pequena: Gabrielly Marcari Elias. É o nome dela que está lá e isso é gratificante demais, mas sabemos que se fôssemos homenagear a todos os bravos guerreiros dessa luta, faltariam paredes em nossos hospitais. Eles merecem sim. E quanto a nós, aguardamos aquele grandioso dia que nos prometem as Sagradas Escrituras: ‘E (Deus) lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram (Apocalipse 21:4)’”, finaliza Giovane.












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