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Nosso Povo

Relato de um vírus

Minha primeira aparição foi em 31 de dezembro de 2019, em Wuhan, na China. Sou uma variação da família coronavírus. Meus antepassados foram identificados em meados da década de 1960. Temporariamente recebi o nome de 2019-nCoV, mas no dia 11 de fevereiro deste ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) me nomeou oficialmente como Covid-19. Ninguém sabe como ocorreu a mutação que permitiu o meu surgimento, mas outras variações mais antigas da minha família, como SARS-CoV e MERS-CoV, são conhecidas pelos cientistas. Eles também chegaram aos humanos por contato com animais: gatos, no caso da Sars, e dromedários, no vírus Mers.

Ainda não se sabe como se deu a minha primeira transmissão para humanos. A suspeita é que tenha sido por algum animal silvestre. O tipo de animal e forma como a doença foi transmitida ainda são desconhecidos. Uma hipótese é que eu esteja associado a animais marinhos. Entretanto, ao menos duas pesquisas apontam outras possibilidades: uma delas cita a cobra e, outra, os morcegos.

Desde os primeiros casos na China, a minha propagação foi rápida, primeiro pelo continente asiático, e depois por outros países. A primeira morte que causei foi na China, em 09 de janeiro, era um homem de 61 anos.

Em fevereiro, chamaram a atenção o crescimento rápido de novos casos e mortes, principalmente no Irã e na Itália.  No dia 26 de fevereiro eu cheguei ao Brasil, que teve o primeiro caso confirmado, em São Paulo. Um homem de 61 anos que viajou à Itália, e deu entrada no Hospital Albert Einstein no dia anterior.

De lá pra cá, me espalhei rapidamente e no dia 11 de março a OMS declarou pandemia por minha causa. A partir daí, autoridades de saúde ficaram em alerta e várias medidas passaram a ser tomadas.

Em meio ao caos que causei, uma boa notícia, no dia 13 de março, o primeiro paciente brasileiro diagnosticado foi curado. Mas no dia 17, a primeira morte no país, a vítima foi um homem de 62 anos que tinha histórico de diabetes e hipertensão. 

Na sequência, mais infectados, mortos, escolas e comércios fechados, enfim o Brasil se rendeu a mim. Mas não pensem que estou feliz com isso. Muito pelo contrário, torço para que as pessoas continuem se cuidando, não mais quero machucar nem matar, não quero sobrecarregar hospitais, não quero mais ninguém tendo que mudar sua vida por minha causa.

Quem eu já contaminei diz que a sensação é horrível e os principais sintomas são: tosse, dificuldade em respirar e falta de ar. Em casos mais graves, posso causar pneumonia, insuficiência renal e síndrome respiratória aguda grave. Para alguns, posso parecer apenas uma gripe, mas em outros posso levar a morte.

Para evitar que eu te contamine, deixo algumas orientações: lave as mãos com água e sabão ou use álcool em gel; cubra o nariz e boca ao espirrar ou tossir; evite aglomerações se estiver doente; mantenha os ambientes bem ventilados e não compartilhe objetos pessoais.

E por fim, sei que ainda não inventaram a cura para as pessoas que eu contaminei, mas também estou ciente dos esforços de cientistas de todo o mundo em busca de uma vacina ou tratamento específico. Estou na torcida, mesmo que isso cause o meu fim.

Nosso Povo

Por: Ana Cláudia Valério

Mestre em Educação, Especialista em Docência no Ensino Superior e graduada em Comunicação Social – Jornalismo. Tem experiência em Jornalismo nas áreas de Televisão, Assessoria de Comunicação e Jornal Impresso, tendo trabalhado em veículos de comunicação, instituições de ensino superior e campanhas políticas. Hoje é editora do Jornal Mensageiro e coordenadora de Gestão e Memória da Casa da Memória Roberto Antonio Marin, de Medianeira.

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